Cheguei. Entrei no primeiro mês do “embarazo”. E que embarazo. Com duas semanas de Espanha, minha rotina continua embaralhada. Aos poucos tento reorganizar a vida. É muita mudança para uma pessoa só.
Se você ouvir falar de uma menina sempre apressada pelas ruas de Madri, cheia de jornais e caderno na mão, carregando uma bolsa que parece pesar uns bons quilos, pode saber, sou eu.
Aí vai a primeira dica: em Madri, more perto do metrô ou na região central. Senão, você vai passar o dia debaixo da terra, deslocando-se de um lado a outro da cidade.
Estou hospedada na casa de uma brasileira até que eu encontre um lugar mais bem localizado. Tenho aula das 10h30 às18h30 e demoro mais de uma hora até a universidade. Foram raras as vezes que cheguei em casa antes das 23h.
A noite é curta. Saio à procura de apartamentos, participo de atividades obrigatórias da Fundación Carolina, resolvo questões burocráticas como abrir conta, comprar celular e dar entrada no NIE – número de identificação de estrangeiro. Tento ainda conciliar estudo com passeios e encontro com os amigos.
Sexta passada, por exemplo, fiquei mais de 22h horas de pé. Acordei às 8h e só me liberei às 23h40, quando fui encontrar com os amigos em um bar, saída que rendeu até as 6h. Fiquei escrevendo à tarde e praticamente a noite toda – só neste fim de semana tenho que produzir para o mestrado uma crônica, uma reportagem, uma notícia e uma foto.
Essa é a vida de jornalista, correndo contra o tempo. Conversando com a “escravaisaura” – assim se apresentou uma das colegas de sala, a minha mais nova amiga venezuelana –, comentei que gostaria que as horas triplicassem, ou parassem.
“Calma, você está aqui há duas semanas. É normal. Depois, as coisas se ajeitam. Quando cheguei em Madri fiquei de favor no apartamento de um conhecido. Não tinha luz e nem elevador. Tive que subir quatro lances de escadas com seis malas”, contou.
Suas palavras me confortaram. Em minha atual casa não fico no escuro e só tinha duas malas que foram para o segundo andar com o apertar de um botão. Mas, mesmo assim, me deu vontade de estar “desembarazada” ou menos “embarazada”. É uma tentação estar em Madri e perceber que não sobra tempo. Gostaria de ficar livre por aí, caminhar sem olhar para o relógio.
Despedi-me da Isaura e troquei de linha na estação. Peguei a direção errada do metrô. Pensei: “É, Dona Embarazada, você está precisando mesmo é de uma licença”. Dei-me uma folga. Desisti da agilidade do metrô e subi até a superfície. Dizem que caminhar faz bem para uma “gestação” saudável.
14 comentários:
Sua vida atribulada em Madri me lembra muito a minha em São Paulo. As coisas vão se ajeitar, mas tempo mesmo não sobra nunca, pode ter certeza! =)
Hum... não esqueça de respirar, bem devagar. De vez em quando, coloque as pernas inchadas para o ar. Fará bem ao bebê!
Minha vida até hoje é assim, depende de nos mesmos, de como somos... as vezes é bom tirar uma folga.
Tomara que vc ache logo um apto no centro, perto do mestrado... Saudades de vc!
Beijos
Ei Carolzitaaaaaaaaaaaa.
Que gestação tumultuada. Já começaram os desejos? rsrsrs. Minha personagem do livro gostava de lamber sabão durante a gravidez. Mas tô achando que você só deseja uma coisa normal, tipo... o descanso!!!
bjosssss
Vai passar. Daqui a pouco seus dias durarão 48 horas.... to torcendo daqui por vc!
Corra, Lola, corra!
Maris Congo e Vianna, vocês nao me animaram muito!! rsrs...Ainda estava com esperança de uma vida menos acelerada...Mas já estou me conformando que o ritmo não vai mudar como eu gostaria. Faz parte. A gente se adapta.
Colocar as pernas para cima e respirar devagar já são práticas diárias...agora lamber sabão acho difícil, só se tiver gosto de chocolate!!! rsrs
Ahh se meu dia tivesse 48 horas, Fabi. Ia ser ótimo! Mas, provavelmente, minhas tarefas muitiplicariam de acordo com o tempo..rs...dobraria também o "corre, Carol, corre", né Osmar?
"Senão, você vai passar o dia debaixo da terra"... rsrs nao sabia que o Renato tinha ido te visitar Chambis!! rs
Saudades da sua super cia!!!
Por que, Chambs? O Renato mora embaixo da terra? Pensei que ele morasse na lua...rsrs
Se os seus sintomas são o deslumbramento com tudo o que é novidade, a sensação de tempo limitado, tudo isso num outro país, então o único remédio é Fernando em Pessoa: "Viajar é perder países..."
Se não fosse assim, onde entraria a poesia?
Quando eu me perco, eu me encontro, Anônimo. Obrigada pela poesia de Fernando "em" Pessoa.
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