terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Aliança Brasil-Espanha

A relação entre Brasil e Espanha é histórica. Os laços que nos unem vêm de muito tempo, são séculos de convivência. Os espanhóis constituem uma das expressivas comunidades de imigrantes no Brasil. E muitos brasileiros trocam o gigante da América do Sul e a oitava economia do mundo para ganhar a vida em uma nação que já prosperou, mas que hoje enfrenta os efeitos da crise econômica que assola também outros países europeus.

Uma das importantes figuras para promover a cooperação entre os dois países é o nosso embaixador na Espanha, Paulo César de Oliveira Campos. Fui até ele para saber mais sobre os principais marcos dessa relação e o que esperar do governo Dilma.


Como o senhor avalia a relação entre Brasil e Espanha no governo Lula, já que tivemos um presidente com presença internacional marcante, de cooperação e alianças? Quais foram os principais êxitos e desafios nos âmbitos político, cultural e econômico?
No Governo do Presidente Lula as relações ganharam mais impulso. Foi, por exemplo, nos últimos oito anos que Brasil e Espanha criaram o formato de Parceria Estratégica, em uma relação que vinha crescendo desde o início da década de 90 com a redemocratização dos dois países, com a intensificação das trocas comerciais e do fluxo de investimentos. A Parceria é um dos mais importantes marcos bilaterais. Com ela tratamos temas como educação, intercâmbio, cultura, ciência, tecnologia, comércio, investimentos, apoio ao desenvolvimento e combate à fome. As relações entre nossos países é muito vibrante, contamos com a participação ativa de entidades sociais e de setores empresariais. Os investimentos e o comércio vêm crescendo ano a ano e esperamos que ganhem mais fôlego com o fim da crise financeira internacional. As afinidades culturais e a simpatia natural facilitam as trocas culturais. Temos registrado uma oferta crescente de cinema e música brasileira ao público espanhol. Fico feliz em dizer que a cultura brasileira é muito apreciada na Espanha.

Quais são as expectativas com a posse da Dilma? Haverá alguma mudança?
O Brasil tem uma política externa com linhas de ação tradicionais e bem definidas, que sempre buscaram o desenvolvimento do país e a melhoria das condições de vida dos brasileiros. Tenho convicção de que não será diferente no Governo da Dilma. E, nesse contexto, a Espanha continuará exercendo um papel de destaque, antes de qualquer outro motivo, pelo próprio peso econômico que Espanha e Brasil têm na geração de riqueza tanto de um, como de outro.

Como o senhor qualifica as relações comerciais entre Brasil e União Européia, sobretudo com a Espanha?
O comércio vem crescendo. E tem espaço para crescer ainda mais. Mas para isso, há questões que devem ser enfrentadas, especialmente pela União Européia. O Brasil defende o livre mercado, que achamos que é o caminho mais curto para o desenvolvimento e a distribuição de riquezas. Mas ainda existem muitos subsídios por aqui, que subvencionam tanto a produção quanto a exportação, especialmente de produtos agrícolas. Há também quotas que limitam as vendas brasileiras. Esperamos que esses entraves ao comércio desapareçam gradualmente. No momento, estão em andamento negociações de um acordo de livre comércio Mercosul-União Européia. Esperamos que sejam concluídas em breve e que tenham impacto positivo no comércio entre as duas regiões.

Espera-se algum investimento Espanha-Brasil com as obras da Copa e das Olimpíadas? Ou em outros setores, já que o Brasil é considerado um país forte, seguro e atrativo?
As empresas espanholas certamente estarão entre os investidores em obras relacionadas à Copa e às Olimpíadas. Têm muita experiência em campos-chave, como hotelaria, alimentação, transporte e organização de eventos. Cadeias espanholas de hotéis estão presentes no Brasil há vários anos e já estão investindo pensando no maior fluxo de turistas com esses eventos. O capital espanhol também deve fazer parte da concorrência pela construção do trem-bala entre o Rio e São Paulo. O Brasil espera contar com a experiência da Espanha na organização das Olimpíadas, para trazer um pouco para o Rio o belíssimo espetáculo que foi montado em Barcelona em 1992. Além disso, várias empresas espanholas têm participado do programa Minha casa, Minha vida, por exemplo.

Quais são as medidas que vem sendo tomadas pelas autoridades espanholas e brasileiras para conter o tráfico de mulheres e homens vindos do Brasil para se prostituírem?
O grande problema é a exploração do ser humano, a ameaça, a coação, a violência, o tráfico de pessoas. Os cidadãos que escolhem o caminho da prostituição muitas vezes não têm informação das redes criminosas que estão se envolvendo, que atuam também no tráfico de drogas e armas e com lavagem de dinheiro. Isso tem sido combatido pela cooperação policial e apoio da Interpol. Além disso, o Governo brasileiro, por meio da Secretaria de Política para as Mulheres, vem fazendo um trabalho de orientação e acolhimento de cidadãos prostituídos aqui na Espanha e no município de origem dessas pessoas. Essa atuação é em parceria com as autoridades espanholas.


Qual a opinião do senhor em relação às barreiras que os brasileiros enfrentaram nos últimos anos ao passar pela imigração espanhola?
Em primeiro lugar, acho que deve haver regras claras. Para que a Europa tenha critérios claros para entrada de estrangeiros é necessário maior coordenação entre os diversos estados que compõem a UE, que muitas vezes tem requisitos que conflitam entre si. Todos os países são soberanos e têm o direito de dizer quem entra e quem não entra em seu território. Espanha e Brasil não são diferentes. O que almejamos é, para além das regras claras, que haja condições dignas de tratamento em caso de inadmissão. Mantemos diálogo próximo com as autoridades espanholas e já houve avanços nessa área, tanto que o assunto há mais de ano não tem sido tratado na imprensa brasileira.



Este ano o Brasil sediou a reunião da Aliança das Civilizações. Qual a importância da realização desse fórum no Brasil? Por que o nosso país foi escolhido?
O Brasil apoiou desde o início a iniciativa da Espanha e da Turquia de lançar a Aliança das Civilizações. Acreditamos que os povos e os governos devem fazer sua parte no combate ao extremismo e ao sectarismo. E o Brasil tem muito a dizer a esse respeito. Desde a nossa fundação, somos um país em que convivem muitas culturas e religiões, sem que haja violência em razão disso. 


Como o intercâmbio entre os dois países é estimulado?
Esse é o papel das Embaixadas, seja a do Brasil na Espanha, seja a da Espanha no Brasil: estimular todos os níveis de trocas e intercâmbios, facilitando e incentivando entidades e indivíduos a se conhecerem, a trocarem experiências, a proporem empreendimentos conjuntos. Mas, o maior estímulo decorre da simpatia natural que nutrem espanhóis e brasileiros. Este é o maior acervo que dispomos e que é o estímulo natural do intercâmbio entre nossos povos.


E a cooperação para o desenvolvimento científico e tecnológico?
A Espanha e o Brasil têm nível de desenvolvimento científico semelhante, o que é um celeiro de oportunidades. Assinamos em 2008 um acordo de cooperação que elegeu as áreas em que os dois países têm excelência tecnológica e podem avançar juntos. São áreas bem diversas, como biocombustíveis, nanotecnologia, fármacos ou tecnologia aeroespacial. O diferencial foi que colocarmos as instituições lado a lado, para que houvesse contato direto entre pesquisadores.


De todos os países que exerceu a diplomacia, o senhor percebe alguma particularidade de trabalhar na relação Brasil-Espanha?
Pelo fato de termos afinidade cultural acho que tudo fica mais fácil. Entendemos os espanhóis e eles nos entendem, sem dificuldades. Nossa história recente é muito parecida. A ditadura, a redemocratização, a defesa e a consolidação da democracia. Por isso acredito que a Parceria Estratégica que colocamos no papel já é há muito tempo realidade na vida das pessoas. Fico feliz em ver o crescimento das iniciativas conjuntas, não só no campo dos negócios, mas também na cultura, na ciência, nos esportes. Só temos a ganhar em nos conhecermos cada vez mais.

9 comentários:

Zoi di Gato disse...

Boa entrevista com o embaixador - ele lembra o Peninha.
Foi publicada só aqui ou vai sair em outro lugar?

Osmar Fraga disse...

Parabéns, Carol! Mandou bem demais! ;*

Ariadne Lima disse...

Gente, que orgulho da minha boneca!!!

Mary disse...

Carol, estou de novo lendo seus textos. Aliás, estou sempre aqui me informando com você.
Meu sonho é conhecer a Europa e a Espanha está em minha lista. Gostei muito da entrevista com o embaixador. Gosto de gente que acredita no Brasil e em suas relações. Parabéns! Beijos.

Carol Jardim disse...

Ei Zoi di Gato, tinha até pensado em sugerir a pauta para algum veículo. Mas preferi fazer uma entrevista genérica, com uma abordagem mais ampla, sem um gancho.

Carol Jardim disse...

Ei Mary, você vai amar a Europa, qualquer país, todos que eu conheci foi incrível, cada um com sua peculiaridade. A Espanha então, você vai aproveitar muito, ainda mais que já morou no Chile, que você fala espanhol e teve a oportunidade de perceber a influência da cultura hispânica lá. Acho precioso voltar as nossas origens, reviver a nossa história. É uma forma de nos conhecermos, uma experiência rica. Se planeje que eu te dou todas as dicas... :)

Bárbara Amaral disse...

VOCE É UMA CABEÇUDA!!!!!!!!!!!!!!! MEU ORGULHO É DO TAMANHO DO MUNDO!!!!!!!!!!TE AMO!!!

Carol Jardim disse...

Cabeçuda é a mãe. rs. Te quiero mama!!! :)

Unknown disse...

adorei a entrevista! vc sabe se colocar mto bem! foi mto útil pra mim, me informei de algumas coisas que eu não sabia! Estou super orgulhosa do trabalho!