Uma sala de aula, muitos homens e algo suspeito. A espanhola Concepción Arenal (1820-1893) frequentava o curso de direito na Universidade Complutense de Madri com vestes masculinas e contra a vontade de sua mãe. Também com calça e camisa de botão, participava de discussões políticas e literárias, desafiando a cultura do patriarcado que excluía as mulheres da educação universitária. Com ela nascia o feminismo no país. Arenal criou condições para que, mais tarde, outras espanholas questionassem seus direitos e deixassem de ser coadjuvantes. Assim como a escritora galega, essas mulheres foram imortalizadas em nomes de ruas, em prêmios, na memória e continuam influenciando vidas na Espanha.
Diferentemente da trajetória de Arenal, a espanhola Emilia Pardo Bazán (1851-1921) não teve que enfrentar a família para perseguir seus sonhos e conquistar seu espaço em uma sociedade de dominação masculina. Desde criança teve apoio dos pais para se dedicar aos estudos e à escrita – sua verdadeira paixão –, sendo liberada das tarefas domésticas. Em comum com a moça que se passava por rapaz, Bazán também se consagrou como uma importante escritora do século XIX e uma das primeiras feministas da Espanha. Publicava artigos denunciando o sexismo predominante no país e exigindo mudanças, a começar pela possibilidade de uma educação igual a dos homens.
Entrava o século XX e os desafios para as mulheres ganhavam outra roupagem. A Espanha estava dividida: de um lado, a extrema direita, as classes privilegiadas e seus aliados, que se posicionaram contra as tentativas de reforma do governo republicano socialista. De outro, o povo, que buscava qualidade de vida e se opunha às atrasadas oligarquias espanholas e seus aliados nazistas e fascistas em plena ascensão no continente europeu.
Entrava o século XX e os desafios para as mulheres ganhavam outra roupagem. A Espanha estava dividida: de um lado, a extrema direita, as classes privilegiadas e seus aliados, que se posicionaram contra as tentativas de reforma do governo republicano socialista. De outro, o povo, que buscava qualidade de vida e se opunha às atrasadas oligarquias espanholas e seus aliados nazistas e fascistas em plena ascensão no continente europeu.

Também nessa mesma época saía às ruas Clara Campoamor Rodriguez (1888-1972). Política, republicana, liberal e defensora dos direitos da mulher, foi a principal impulsionadora do sufrágio universal na Espanha, conquistado em 1931. Aos 36 anos, torna-se em uma das poucas advogadas espanholas. Após sua morte, recebeu homenagens de várias instituições que defendiam os direitos das mulheres, e foi instituído um prêmio que leva o seu nome, reconhecendo anualmente personalidades ou grupos que atuam pela igualdade de gênero.

Nazismo e franquismo ficaram – pelo menos em parte – no passado. Nascem outros paradigmas e as mulheres se unem para buscar respostas aos novos desafios. Legalização do aborto, prostituição, religião, violência de gênero e participação política são temas latentes, que geram importantes polêmicas e debates para a mulher de hoje. Entra então Esperanza Aguirre, militante do Partido Popular (PP) – da direita espanhola –, e a primeira presidente eleita da Comunidad Autônoma e Madrid. Nascida em 1952, também foi a primeira e única mulher a ostentar um cargo de presidência do Senado e de Ministra de Educação e Cultura do governo Espanhol.

Além dela, outras caras, nomes, braços, ações, sonhos, desejos. Que não só no Dia Internacional das Mulheres, celebrado hoje, 8 de março,o legado dessas mulheres sirvam de exemplo. Sabemos que a mulher não é mais aquela definida pela feminista e filósofa Simone de Beauvoir, em seu livro o Segundo Sexo, como a Bela Adormecida no Bosque, a Cinderela e a Branca de Neve que recebe e suporta. No entanto, as princesas que se despiram do vestido ainda esperam mudanças mais profundas, até que a cultura esteja limpa e nua de qualquer vestígio machista que oculte o brilho e a cor de mulheres que querem ser para sempre vivas*.
*"Sempre-viva é o nome de uma flor muito bela e teimosa do cerrado que pode durar até cinquenta anos. Mesmo depois de seca ela permanece inteira, firme e com suas cores características, como se estivesse viva, por cerca de cinco anos. Além disso, caracteriza-se pela fácil dispersão e, por ironia, hoje encontra-se ameaçada de extinção. É uma flor capaz de se espalhar, de ser levada pelo vento. Livre e natural, cheia de vida". Trecho retirado do livro-reportagem Sempre vivas: histórias de sobrevivência, escrito por mim e por duas grandes amigas e jornalistas, Ana Luisa Barcelos e Mariana Celle.
4 comentários:
tinha certeza que hoje você escreveria algo. muito bom.
parabéns pelo dia, quérida.
Obrigada por me fazer começar o dia 8 de março com essa postagem...
Sinto muito orgulho ao ler cada texto que você escreve! Leio e penso na menininha que conheci aos 12 anos na porta de saída dos alunos da ESTA e que cresceu comigo dividinhdo cada experiência!
Te amo profundamente!
Obrigada você Lulu, pelas palavras de carinho. Amo!
Não podia passar em branco, né, Quérido? Obrigada e beijos saudosos.
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