Entre os séculos XV e XVII, nas inabitadas ruas da capital espanhola, erguia-se um matadouro. Degolavam-se carneiros, porcos, vacas, cabras e touros, que eram vendidos para todo o país. Os pobres bichos não fizeram a revolução. Deixavam rastros de sangue pelas ruas de onde viria a compor, tempos depois, a elegante e imperial Madri.
Foi desse cenário de sacrifícios que surgiu o nome do mercado mais popular da cidade: o Rastro, passagem obrigatória para muitos turistas. Juntaram-se à matança dos animais fábricas de sapatos, arreio, roupa, produtos derivados do sebo, comidas e até objetos roubados. No século XIX, chegou o comércio de livro, compra e venda de móveis e a feira foi adquirindo um aspecto diferente de suas origens sangrentas.
Hoje, o mercado atravessa uma região que chama La Latina, entre a Plaza de Cascorro – considerada a mais emblemática do Rastro por possuir uma estátua do Rei Alfonso XII – e a Plaza del Campillo del Mundo Nuevo. O espaço abre aos domingos de 9h às 15horas e oferece produtos de todos os tipos, de 1 a 100 euros, de boa e má qualidade.
São 3,5 mil postos de vendas. Sapatos, bolsas, bilhete de loteria, utensílios domésticos, colares, brincos, roupa nova e usada, acessórios de informática, CDs, camisas do Real Madrid e do Iron Maiden. Lembra a Feira Hippie de Belo Horizonte ou outros mercados do Brasil. Refiro-me ao tipo de mercadoria. Quanto ao local, aos produtores e aos consumidores, esses sim, são bem diferentes.
Os vendedores do Rastro são, geralmente, imigrantes vindos de todas as partes do mundo. E os clientes, mais turistas do que madrilenhos. Muitos dão o ar da graça só pela tradição do lugar e não pelas compras.
Com fama internacional, a concentração de visitantes na feira pode chegar a mais de 10 mil pessoas por dia. O ibope tem fundamento. Nas palavras do escritor espanhol, Rámon Mesonero Romanos, visitar o Rastro é mais do que um passeio, é uma verdadeira “caça ao tesouro”.