segunda-feira, 4 de abril de 2011

O lado sujo da Espanha, muckrakers em ação

Este cartoon, chamado de The Bosses of the Senate, foi produzido por Joseph Keppler e publicado na revista Puck em 1889. Refere-se aos poderosos chefões dos Estados Unidos que dominavam a cena política e foram denunciados pelos jornalistas de investigação por beneficiarem grandes empresas como a Standard Oil.

Em 1906, em um jantar com jornalistas, o ex-presidente americano Theodore Roosevelt chamou-os de muckrakers (limpadores de esterco) por atacarem sua política. O termo ganhou popularidade e virou uma das palavras de ordem na Espanha nos últimos 30 anos, num país tomado pela corrupção e por profissionais empenhados em denunciar as irregularidades do sistema.  

Segundo informe da ONF Transparência Internacional, o país ocupa a 28° posição em um total de 180 no ranking de corrupção mundial, sendo o menos corrupto a Dinamarca e o mais, Haiti. Somente nos últimos dez anos, os dois partidos políticos majoritários na Espanha – PSOE (esquerda) e PP (direita) – retirou dos cofres públicos 4 bilhões de euros, em 28 dos 140 casos de corrupção registrados nesse período. Resultado? 85% da população afirmou não confiar em seus representantes, de acordo com uma pesquisa encomendada pelo jornal El País.

Os setores de construção e urbanismo foram os que mais propiciaram a corrupção na Espanha, rendendo pautas e muito trabalho para os jornalistas de investigação, que se dedicam a denunciar a podridão do sistema. Diante dos muckrakers, a classe corrupta reage com a mesma elegância usada na hora de cometer delitos. “Hijos de puta”, soltou Ludolfo Paramio, membro do Executivo do PSOE, aos jornalistas que começaram a destampar a corrupção de seu partido, em 1992.

Baltasar Garzón, juiz da Audiência Nacional na Espanha, defende que um dos motivos para os crimes é a lógica do vale tudo – se ele faz, eu também posso –, e “a instauração de um modo de fazer política prepotente e pouco respeitosa com os direitos fundamentais do cidadão”. Para evitar a corrupção, Garzón propôs algumas medidas e entre elas está o trabalho dos jornalistas investigativos. Segundo ele, os meios de comunicação desempenham papel crucial já que tem sido os únicos a “investigarem e a denunciarem diante da inatividade oficial e das situações de irregularidade”.

Apesar de a Espanha ser um dos principais centros de corrupção, a prática é comum em todo o continente. Em 1996, o jornalista e especialista em criminalidade financeira, Denis Robert, do jornal Liberation, e o Fiscal General de Genebra, Bernand Bertossa, escreveram o Manifesto de Genebra:

Conselho de Europa, Tratado de Roma, Acordo de Schengen, Tratado de Maastricht: atrás dessa Europa em construção, visível, oficial e respeitável, se esconde outra Europa, mais discreta, menos confiável. É a Europa dos paraísos fiscais que prospera de forma descarada (...). É também a Europa do mundo financeiro e dos bancos, onde o segredo bancário é uma desculpa. Esta Europa de contas numeradas e lavagem de dinheiro é utilizada para reciclar o dinheiro da droga, do terrorismo, das seitas, da corrupção e das atividades mafiosas.

4 comentários:

Zoi di Gato disse...

Senti uma certa identificação com o Brasil.

Clarice de Pinho disse...

Enquanto lia, formulei um comentário. Não me surpreendi ao ver que foi exatamente o mesmo do Zoi di Gato...

Anônimo disse...

Que interessente saber disso..Ou melhor, que triste realidade...Achava que corrupção era mais cara do Brasil, que fazia parte do "jeitinho brasileiro" em que tudo pode, dependendo do quanto você tem e de suas influências. Afff. Beijos, Carol linda! (Esperança).

Carol Jardim disse...

A corrupção está em todos os lados, não é coisa do Brasil. Precisamos de mecanismos mais eficientes para combater a corrupção e uma mudança de cultura.