“Você já viu um pé aqui na Espanha?”, perguntou-me Lele, mineiro que conheci aqui em Madri e virou amigo de aventuras, saídas, desabafos e viagens sem sair do lugar. O Fernando Silveira – só muito tempo depois que fiquei sabendo que seu nome não era Leandro ou Leonardo –, é daquelas pessoas que roubam gargalhadas até de quem não domina o português.
Mas, nesse dia, quando Lele refletia sobre a ausência de pé no inverno do Hemisfério Norte, não estava de brincadeira. Referia-se ao frio de Madri – que nos impõe cobrir dos pés à cabeça – com um ar de saudosismo do calor brasileiro e com cara de quem estava morrendo de vontade de curtir uma praia, mesmo que a nossa belo-horizontina seja de um mar de botecos e não de areia.
Nunca tinha parado para pensar nisso, mas, realmente, faz quatro meses que não vejo um pé. O frio deixa sandálias e chinelos empoeirando no armário. Uma meia-fina em Madri é tão sensual quanto um decote, costas de fora ou mini-saia no Brasil. Geralmente, as pernas estão vestidas de meias grossas, não deixando um milímetro de pele à mostra. Quando sobra, as mulheres que se cuidem. Os olhares devoram as coxas expostas.
Este ano, o inverno está mais ameno. Desde que começou, em 21 de dezembro, foram raras as vezes que os termômetros registraram temperaturas abaixo de zero. Mas, mesmo assim, é frio suficiente para que a rua seja pintada de braços cruzados, caras franzidas, mãos no bolso e passos acelerados.
Todo mundo tem pressa. A baixa temperatura é vista no comportamento das pessoas. Não é preciso estar na rua para saber o que frio está pegando. Da janela da minha casa se vê uma mudança de atitude que denuncia o desconforto do ar gelado.
Nas caras tampadas sobram olhos, nariz e boca. As pessoas andam com o rosto inclinado para baixo. No meio do caminho, procuram um lugar fechado. Pulam de uma cafeteria a outra e, se não há abrigo, desviam das sombras das árvores.
Quando o céu está azul, tudo fica mais fácil. Dá até para arriscar tirar o sapato, a meia. Mas poucos se atrevem. A próxima nuvem está a poucos centímetros do sol, e o pé, a semanas de aparecer, quando a primavera chegar.
Quando o céu está azul, tudo fica mais fácil. Dá até para arriscar tirar o sapato, a meia. Mas poucos se atrevem. A próxima nuvem está a poucos centímetros do sol, e o pé, a semanas de aparecer, quando a primavera chegar.
Cadê o pé que estava aqui?
6 comentários:
Enquanto isso, por aqui, chinelos, rasteirinhas, sandálias e, algumas vezes, até mesmo pés no chão para não cozinhá-los!
A vantagem do inverno sem pés é que não precisamos nos preocupar em estar sempre com as unhas dos pés feitas, né! hehehe
Meu pé é feio, vou pra Madri. rsrsrsr
Aqui, Clá, não tem nem perigo de colocar os pés no chão, nem dentro de casa. Só se quiser congelá-los...Meia é garantido. Não ter que fazer unha do pé realmente é uma grande vantagem. Além de ser caro, é bom que usamos o nosso tempo para fazer coisas mais interessantes ou menos bizarras. Fazer unha não é bizarro? Já parou para pensar? Tirar cutícula então, mais ainda! rsrs
hahaha...então vem Roberta. :) Quando chegar a primavera você coloca havaianas e seu pé vai ficar lindo. O povo aqui adora!!!!
Se não é possível ver o pé, o que dirá do tornozelo, da batata da perna e da coxa!?
No frio que faz aqui, Zoi di Gato, é quase nudez.
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